O excesso de consumo
de Bebidas alcoólicas na Adolescência e na Juventude: Normalidade ou Riscos?
*
Pe. Paulo Nunes
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“O Grande
problema de hoje é a carência de objetivos, a falta de sentido da vida. O ser
humano sente a necessidade frenética, desesperada, de felicidade. Esta falta de
sentido é substituída pela procura de “sensações” no álcool... drogas e na
ansiedade sem descanso de quem não sabe o que procura”.
Miguel Lucas
Hoje, cada vez
mais cedo, o álcool está fazendo parte da vida dos jovens e por muitas vezes
ainda adolescentes. Os acontecimentos em certos lugares acabam em pizza e com a
juventude do Brasil e do mundo termina, quase sempre, em álcool e muito
barulho. Com o crescimento do número de adolescentes e jovens envolvidos com o
excesso de bebidas alcoólicas, também cresce o número de envolvimento destes em
acidentes de automóveis, em vandalismos e outros atos de irresponsabilidade
que, por vezes, levam a experimentar outras drogas lícitas e ilícitas. O resultado
que esta realidade atual produz é de uma nova sociedade, um novo mundo, onde os
adultos ficam cada vez mais doentes, dependentes de drogas e irresponsáveis. O
meio social oferece mais riscos que proteção aos adolescentes. Não apenas
abotoado à questão das drogas e sim, em todos os problemas. Um mecanismo que
possibilitará a mudança desta triste realidade é a vivência de uma cultura de
responsabilidade e cultivo da vida.
Procuro, assim, trazer, por meio destas breves linhas alguns esclarecimentos sobre o risco provocado por alguns hábitos da juventude, dando uma ênfase maior ao consumo de bebidas alcoólicas nesta fase da vida. Este artigo traz, ainda, uma reflexão, sobre o problema do consumo do álcool na adolescência, apresentando os riscos à saúde física, mental e espiritual, apontando para a ineficácia das campanhas de combate ao alcoolismo que, infelizmente, não fazem mais efeito, oferecendo ao leitor subsídios para um despertar de consciência, mais crítica, em ralação ao atual comportamento destes adolescentes.
Procuro, assim, trazer, por meio destas breves linhas alguns esclarecimentos sobre o risco provocado por alguns hábitos da juventude, dando uma ênfase maior ao consumo de bebidas alcoólicas nesta fase da vida. Este artigo traz, ainda, uma reflexão, sobre o problema do consumo do álcool na adolescência, apresentando os riscos à saúde física, mental e espiritual, apontando para a ineficácia das campanhas de combate ao alcoolismo que, infelizmente, não fazem mais efeito, oferecendo ao leitor subsídios para um despertar de consciência, mais crítica, em ralação ao atual comportamento destes adolescentes.
A juventude e seus hábitos nem sempre maravilhosos.
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É verossímil
que as energias de grande parte da juventude são depositadas nos bares,
principalmente em meio a muito barulho e com um consumo exagerado de bebidas
alcoólicas e outras drogas. É certo que nas sextas-feiras as escolas e
cursinhos pré-vestibulares têm suas salas mais vazias, mas, em compensação, os
bares, restaurantes, lanchonetes e “points” estão sempre cheios. Poderíamos até
achar bom, afinal são jovens que passam a semana estudando e, às vezes, até
trabalhando e tiram os finais de semana para liberar as energias e se divertir.
Porém o exagero destes hábitos traz problemas mais graves, como o vício e a
idade de atração pelo álcool, que é cada vez menor. Em sua maioria, estes jovens
ainda são adolescentes, e como o próprio nome diz, a adolescência é um período
de descobertas do corpo e da vida. E é durante estas descobertas que despertam
para as emoções, paixões e mudanças físicas, morais, culturais e sociais.
A real
situação, hoje, é que os pais, preocupados, não se sentem seguros quando seus
filhos saem de casa, mesmo que essas saídas sejam para lugares considerados
seguros, como a igreja, a escola e outros. Paira o temor das drogas e da
violência, mas uma das maiores preocupações são as drogas de fácil acesso, como
o álcool e o cigarro, por exemplo. Estas drogas estão próximas, o preço é
acessível, e uma outra realidade deve ser considerada, ou seja, tudo é
assimilado com muita normalidade e sem muita censura dos pais de família. Então,
estes adolescentes bebem por curiosidade, pelo desejo de inserção social, para
esquecerem problemas ou até mesmo para criar coragem para paquerar e enfrentar
a própria dureza da vida. E, aos poucos, o que era apenas uma brincadeira ou
uma diversão, torna-se num estado de vida, afogado nas lágrimas e no abandono
de amigos, denominados de “amigos de copo”[1] e
familiares também.
Em nosso país,
existem leis e campanhas, ditas educativas, mas que não são mais cumpridas. Por
exemplo: há uma lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em postos de
gasolina, mas a realidade nos mostra postos de gasolina com lojas de
conveniência e bares instalados, tendo como principal produto de
comercialização, bebidas alcoólicas. E isto incentiva o consumo do álcool aos
motoristas que ali estacionam. Há, também, uma outra lei que proíbe a venda
destas bebidas, em qualquer estabelecimento, a menores de dezoito anos, porém
não havendo aplicação não há eficácia, pois a realidade é outra completamente
diferente: não existe fiscalização. O que se vê são estabelecimentos cheio de
jovens e até adolescentes consumindo bebidas com alta dosagem de álcool. As
drogas lícitas, num consumo exagerado, tornam-se ilícitas, fabricando futuros
adultos dependentes. Não basta criar leis, é preciso aplicá-las.
Alguns
especialistas chegam a afirmar que a bebida não provoca danos, desde que seja
consumida moderadamente, ou seja, socialmente. Infelizmente a nossa cultura
atual promove um alto índice de pessoas dependentes de álcool. A cerveja, por
exemplo, é considerada como uma bebida tradicional e que deve ser consumida
deliberadamente, ou seja, bebe-se no frio para esquentar e bebe-se no calor
para esfriar. Ela é a mais presente e nunca deixa sua clientela, seguida pelas
bebidas “quentes” ou destiladas, costumeiramente, apelidadas de “birita”. A
bebida alcoólica é de fácil acesso na maioria dos lugares, da fabrica ao bar
mais próximo de qualquer residência, pode-se consumir. E o prejudicial nesta
falta de controle é que o preço é baixo, não existe regulamentação tanto para
quem vende, quanto para consumidor, que pode ser adolescente ou não, o
pré-requisito neste caso é penas o dinheiro, gerando assim um sério problema
ético. Informar e educar os jovens é o meio mais eficaz para evitar o consumo
exagerado e precoce de álcool o que torna os pais veículos importantes de comunicação e apoio,
na assistência exemplar aos filhos e na impressão de valores morais. Embora a
preocupação dos pais esteja mais voltada para o consumo de maconha e cocaína, o
álcool é que vai fazendo suas vítimas muito discretamente.
O consumo do álcool e seus efeitos
O alcoolismo
pode ser considerado uma doença quando sai do controle. É agradável o consumo
de álcool de maneira social, sem dependência, apenas é arriscado quando o
indivíduo sai desta fase social de beber e faz dela um hábito e vai acostumando
o organismo a uma quantidade cada vez maior. Quando perde este controle, a
dependência passa a ser física e psicológica. As ressacas e os problemas em
decorrência da bebida: como problemas familiares, de relacionamento e de saúde,
passam a ser constante; é geralmente nesse período que ocorrem as tentativas de
fuga da dependência, o indivíduo busca meios estratégicos e disponíveis para se
recuperar e sair do vício, porém o pior momento se dá é quando o indivíduo, já
em decorrência da dependência tem um atrofiamento do cérebro: passa a delirar,
perde a coordenação motora, o equilíbrio emocional, por vezes se torna
esquizofrênico, sendo inclusive confundido com um Psico-Maníaco-Depressivo
(PMD). Essa é a fase crítica e determinante no processo de dependência do
álcool.
A medicina
afirma que o alcoolismo produz sintomas neurológicos, afeta o cérebro, estômago
e fígado. O cérebro se intoxica com substâncias produzidas pelo fígado em
virtude de uma inflamação crônica chamada cirrose, comprometendo a mente e
prejudicando a percepção de distância e velocidade, ocasionando assim, os
acidentes. O estômago é comprometido pela gastrite (irritação ou ferida na
parede interna do estomago) e é comum a indisposição e a falta de apetite,
causando, assim, várias hemorragias, ocasionadas pelo inchaço na mucosa do
estômago, dilatação das veias do estômago e do esôfago, causando no indivíduo a cirrose, levando-o a morte, através do coma
alcoólico. O fígado, órgão responsável pela coagulação sanguínea, devido à alta
quantidade de álcool, produz uma gordura, chamada esteatose, adquirindo um
pré-estágio da cirrose, e então esta gordura provoca no fígado um estado de petrificação.
Entenderemos
com mais clareza o efeito do álcool no organismo, se analisarmos uma dose de
bebida alcoólica: ela possui entre dez e doze gramas de etanol, que equivale a
uma unidade de álcool puro, suficiente e sadio para um adulto. A quantidade de
unidades de álcool é determinada pela concentração de álcool num volume de
bebida, por exemplo. Com base nesses valores foram identificados padrões de
quantas unidades de álcool um adulto sadio poderia consumir semanalmente: uma
dose de aguardente – 50ml com concentração de álcool de 50% conteria 25gr. de
álcool ou 2,5 unidades de álcool. Uma lata de cerveja 350ml com concentração de
5% de álcool teria o equivalente a 17gr. de álcool, aproximadamente 1,5
unidades de álcool. (LARANJEIRA & PINSKY, 1997). Assim, por esses padrões,
que podemos denominar de critérios de consumo, é possível determinar as
unidades de álcool que um indivíduo vem consumindo.
A Tabela
abaixo apresenta as bebidas mais consumidas e as respectivas concentrações de
álcool, gramas e unidades de álcool:
Bebidas
|
Concentração de Álcool/ gr.
|
Unidades de Álcool
|
1 Lata de Cerveja 350ml
|
5% = 17gr. de álcool
|
+- 1,5
|
1 dose de aguardente 50ml.
|
50% = 25gr. de álcool
|
2,5
|
1 copo de chopp 200ml
|
5% = 10gr. de álcool
|
2,5
|
1 copo de vinho 90ml
|
12% = 10gr. de álcool
|
1
|
1 garrafa de vinho 750ml
|
12% = 80gr. de álcool
|
8
|
1 dose de destilados (uísque,
pinga, vodca, etc.) 50ml.
|
40%-50% = 20g-25gr de álcool
|
2 - 2,5
|
1 garrafa de destilados 750 ml
|
40%-50% = 300g-370gr. de álcool
|
30 – 37
|
Vale ressaltar
que esses padrões de consumo estão relacionados ao consumo durante uma semana,
portanto, este consumo de álcool em apenas um dia implicaria danos mais
agravantes à saúde. Neste caso, o álcool torna o sujeito mais vulnerável a
problemas de saúde, como intoxicação alcoólica, probabilidade de acidentes,
sendo que o limite permitido por lei é de 0,57gr. de álcool por litro de
sangue.
“Nas mulheres, em comparação com os homens, o álcool
atinge maiores concentrações no sangue e é absolvido em maiores quantidades
devido à proporção de gordura corpórea maior e de menor quantidade de líquido
corporal nas mulheres que nos homens. Desse modo, o álcool causa mais problemas
físicos nas mulheres, comparados com os homens com o mesmo peso corporal. Tal
padrão de consumo refere-se a mulheres não-grávidas, pois na gravidez é
recomendável a abstinência total de álcool” (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).
A Tabela II
abaixo representa os riscos do álcool à Saúde X Consumo de Álcool.
RISCOS
|
MULHERES
|
HOMENS
|
Baixo
|
Menores de 14
Unidades
Por semana
|
Menores de 21
Unidades
Por semana
|
Moderado
|
Por semana
15 a 35
unidades por semana
|
Por semana
22-50
unidades por semana
|
Alto
|
Mais de 36
Unidades
Por semana
|
Mais de 51
Unidades
Por semana
|
Ainda não existe uma certeza científica sobre o que determina a etiologia do alcoolismo. Estudos detectam evidências para as condições, mas não existe definição exata.
“Há muito mais
indivíduos não diagnosticados medicamente como alcoólatras, mas que consomem
álcool de forma prejudicial à saúde. Há fatores sociais com tanto poder de
persuasão para a prevenção quanto para estimular padrões inadequados para o
beber, por exemplo, demanda e oferta de bebida, informação e propaganda” (LARANJEIRA
& PINSKY, 1997).
As campanhas
publicitárias trazem rendimentos milionários à mídia, e o governo tem um lucro
muito alto com os impostos destes produtos. As campanhas incentivam o consumo
de cigarros e bebidas. As propagandas e os comerciais destinados,
principalmente aos jovens, incentivando o consumo de bebidas alcoólicas, trazem
sempre a imagem de lindas mulheres seminuas ou rapazes mostrando seus corpos
esculpidos e seminus. As cervejas são campeãs nestas estratégicas maneiras de
persuadir com o marketing. Os comerciais são sempre bem elaborados e com uma
linguagem própria de uma classe social baixa e de pouca instrução; a linguagem
é de fácil entendimento enquanto que o alerta para o consumo exagerado é de uma
linguagem culta e de difícil entendimento, a exemplo de “Beba com moderação”. O
que é preocupante não é somente o consumo de bebidas alcoólicas, pois estas só
são prejudiciais quando consumidas em excesso, mas a preocupação maior deve ser
com o consumo de cigarros e outras drogas que, aparentemente, são proibidas,
pois estas são prejudiciais em qualquer quantidade, tanto em pouca, como em
muita quantidade, pois o prejuízo é total na vida, até levar à morte.
Conclusão
Cabe,
portanto, salientar que as drogas provocam um aparente “bem estar”, uma
adrenalina, um êxtase e uma sensação de liberdade, e, por conta destas
sensações, muitos jovens se entregam a uma liberalidade, sem nenhum pudor ou
respeito pelo outro, e até mesmo vivem experiências desafiantes e arriscadas,
como dirigir automóveis em alta velocidade, dirigir alcoolizado e, por vezes,
promover os chamados “pegas”, provocando acidentes e ferindo pessoas inocentes
e até cometendo assassinatos. Fica nítido nestas ocasiões, o descompromisso
social e a falta de respeito às leis de trânsito, mesmo existindo as blitz,
promovidas pelos órgãos competentes usando mecanismos como o bafômetro, mas que
ainda não conseguiram eliminar estas práticas que ainda fazem vítimas. Esses
jovens movidos pelo excesso de álcool são capazes de atos de vandalismo,
promovendo desordens e muitas outras desgraças.
Portanto, o
que não pode ser desconsiderado é o papel educativo dos pais e o compromisso
social que cada cidadão tem em denunciar os estabelecimentos que incentivam e
promovem o consumo destas bebidas, aparentemente benéficas. As leis devem ser
cumpridas e levadas a sério por todos e o governo tem o papel de exigir e criar
em seus órgãos e ministérios, políticas públicas para a juventude. Investir
mais em propagandas, programas de apoio físico e psicológico, como os centros
de recuperação dos Alcoólicos Anônimos (AA) e dos Narcóticos Anônimos (NA) que
já vêm realizando um bom trabalho e, já a partir do colégio, dar ao adolescente
uma vasta visão do que acontece com a vida de dependentes em álcool, sem se fechar
somente às drogas ilícitas, como já acontece.
Referências:
BRASIL – GOVERNO FEDERAL. Estatuto da Criança e do Adolescente. (ECA) São Paulo: MESP, 1990.CURY, Augusto. O Mestre do Amor. Análise da Inteligência de Cristo. Academia de Inteligência. 4ª. Edição. São Paulo, 2002. Pgs. 43-46.
Fonte de pesquisa médica: www.alcoolismo.com.br – 12.08.2005 às 13:12h. LARANJEIRA, R. & Pinsky, I. Alcoolismo. São Paulo: Contexto, 1997.
* Pe. Paulo Nunes
Bacharel em Teologia pelo Instituto de Teologia da
Universidade Católica de Salvador – Padre Diocesano, Professor do Curso de Extensão em Teologia da UCSal[1]O termo “Amigos de copo” refere-se às pessoas que são companheiras somente nas ocasiões de festas, ou melhor, nos momentos de consumo de bebidas.
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