"E a Palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós..." (cf. Jo 1).
Por Paulo Nunes, Diácono.
As Sagradas Escrituras contêm as palavras de Deus, e, pelo fato de serem inspiradas, são verdadeiramente palavra de Deus; e por isso o estudo destes Sagrados Livros deve ser como que a alma da Sagrada Teologia. Também o ministério da palavra, isto é, a pregação pastoral, a catequese, e toda espécie de instrução cristã, na qual a homilia litúrgica deve ter um lugar principal, com proveito se alimentam e santamente se revigoram com a palavra da Escritura (DV 24, pp. 27).
A constituição dogmática Dei Verbum foi escrita em união com os padres do Sagrado Concílio para perpétua memória e foi orientada pela palavra de São João quando diz: “Nós vos anunciamos a vida eterna, que estava junto do Pai e nos apareceu: anunciamo-vos o que vimos e ouvimos, para que também vós estejais em comunhão conosco, e a nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” (I Jo 1,2-3) . O documento segue os Concílios Tridentinos e Vaticano I propondo uma doutrina da Revelação Divina e de sua Transmissão onde o mundo ao ouvir, acredite e ao acreditar espere, e ao esperar ame.
Os aspectos a serem desenvolvidos neste documento são sobre a Revelação, a Transmissão, a Inspiração e a Interpretação, o Antigo e o Novo Testamento e ainda a Sagrada Escritura na vida da Igreja. A cerca da Revelação entende-se a verdade da fé contida na Revelação que possibilita a nós, homens, a experimentarmos a natureza divina por meio de Cristo, o Verbo do Pai Encarnado pelo Espírito Santo . Portanto, Jesus é a plenitude de toda revelação e o mediador que se manifestou à nós e nos salvou.
A cerca da Transmissão é a integra mensagem da Revelação transmitida à todas as gerações, afim de consumir toda Revelação da onipotência de Deus. A Sagrada Escritura é a Palavra de Deus: ela foi inspirada pelo Espírito Santo de Deus e transmitida integralmente pelos seus Apóstolos e seus sucessores, confiados pelo Cristo, no Espírito Santo para que a ‘conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação’. As Sagradas Escrituras e a Sagrada Tradição devem ser veneradas com igual piedade e afeto, pois ambas merecem dignidade e respeito. Sendo assim, comprovamos que:
A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da Palavra de Deus, confiado à Igreja; aderindo a este, todo povo santo persevera unido aos seus pastores na doutrina e na comunhão dos apóstolos, na fração do pão e nas orações (cf. At 8,42), de tal modo que na conversação, atuação e profissão da fé transmitida haja uma singular colaboração dos pastores e dos fiéis (DV 10, pp.14).
Contudo, vale ressaltar que foi confiada à Igreja o múnus de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou contida na Sagrada Tradição com a autoridade do nome de Jesus, não estando acima da Palavra de Deus, mas à serviço sendo Depósito da Fé unindo a Escritura, a Tradição e o Magistério da Igreja assistidos pelo Espírito Santo.

‘A Escritura Sagrada deve ser lida e interpretada com o mesmo Espírito em que foi escrita’ por isso deve dar o devido valor ao sentido real do texto sagrado, sem menosprezar o conteúdo e a Tradição acompanhada à analogia da fé.
O Antigo Testamento vem para profetizar e preparar nossos caminhos para a vinda do grande Messias e Salvador que veio redimir a humanidade. Os livros do A.T. apresentam muitas regras, leis e algumas imperfeições, mas que muitas coisas são relativas ao tempo vivido, contudo, revelam uma pedagogia da fé. A verdade do A.T. é que ele é o esconderijo do Novo Testamento.
Quanto ao Novo Testamento nos é revelado a pessoa de Jesus como o Verbo Encarnado e que por isso mostrou-se, revelou-se para ser depois mistério novamente. Experimentou a dignidade de homem, mas venceu a morte ao nos salvar na cruz. “A palavra de Deus, que é poder de Deus para a salvação de todos os crentes (cf. Rm 1,16), apresenta-se e manifesta a sua virtude dum modo eminente nos escritos do Novo Testamento”(DV 17, pp. 21).
No Novo Testamento, os Evangelhos têm um respaldo maior, pois são eles que relatam a vida de Jesus e seu testemunho e a própria vida dos apóstolos e sua missão que perdura até hoje, na Igreja. O cânon do N.T. traz além dos Evangelhos, as Epístolas de Paulo e outros escritos de inspiração divina.
E ainda, quanto a Sagrada Escritura na vida da Igreja vale observar que na Sagrada Liturgia, a mesa do pão tem o seu lugar, mas a mesa da palavra também tem o seu valor e sua veneração que traz a nós a Sagrada Tradição, mesmo por que a religião deve ser nutrida e dirigida pela Palavra de Deus. ‘A palavra de Deus é viva e eficaz’ (Hb 4,12) e a Igreja pela sucessão apostólica é o Depósito da Fé que guarda com fidelidade e veneração as Sagradas Escrituras e a Sagrada Revelação.
A palavra de Deus é para o povo, pois Deus nos fala pelas Escrituras e quer fazer morada no coração da humanidade, por isso, ela é instrumento para os catequistas, para os ministros e os padres, na vida e nas homilias, contudo, é inaceitável uma vida cristã sem ser encarnada na Palavra de Deus, numa intimidade perspicaz do Verbo, pois a ‘ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo’. Qualquer realidade pode passar, mas a realidade da palavra de Deus é ‘permanecer para sempre’ (Is 40,8; cf. 1Pd 1,23-25).
Algumas considerações pessoais
O Verbo de Deus é o Cristo Jesus, veio como homem, foi morto pelos nossos pecados e ressuscitou para a glória do Pai. Redimiu à todos despojando-se de si mesmo por amor à humanidade, é nisso que a Revelação se constitui (cf. Jo 1,1s). A Transmissão da Revelação Divina se afirma nos pilares da Sagrada Escritura, da Sagrada Tradição e do Magistério. Portanto, é valendo destes pilares com igual reverência que podemos discernir uma autentica interpretação.
As Sagradas Escrituras são constituídas das Escrituras Judaicas e das Escrituras Cristãs (Antigo e Novo Testamento) e está ‘é útil para ensinar, refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda boa obra’ . É importante entender o que Deus quis manifestar por suas palavras para descobrir o real sentido das suas palavras. O Antigo e o Novo Testamento merecem igual veneração, pois a Palavra de Deus se atualiza em todo tempo. O Antigo Testamento é, portanto, a Escritura que prediz, que narra e que explica a nossa salvação, há, no entanto, uma pedagogia que ilumina o Novo Testamento.
Jesus é o centro das Sagradas Escrituras e é a objetivação da salvação prometida pelo Pai no A. T. e o N.T. é a revelação da intenção do Pai: salvar a humanidade. A fé cristã passa pela Leitura Orante da Palavra de Deus e a abertura ao sopro do Espírito Santo que promove o encontro de intimidade com Deus. “A Bíblia é a Palavra de Deus semeada no meio do povo, que cresceu, cresceu e nos transformou ensinando-nos a viver um mundo novo...”.
Resumo e algumas considerações a partir da Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina - Dei Verbum. Dei Verbum. Constituição Dogmática sobre a Revelação Divina. 12a. Edição. São Paulo. Editora Paulinas, 2005.
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