Homilia III Domingo da Quaresma – Ano A

Homilia III Domingo da Quaresma – Ano A

Homilia de Pe. Paulo Nunes

(Ex 17,3-7; Sl 94; Rm 5,1-2.5-8;Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42).

“Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede...”

(Jo 4,15).

Queridos irmãos e irmãs,

Estamos num tempo favorável de conversão. Neste III Domingo da Quaresma, a Igreja leva-nos a refletir sobre nossa própria condição de cristão, de “sedentos de Deus”. Portanto, as leituras, de forma especial o Evangelho, nos trazem exemplos vivos, como a Samaritana (Evangelho). Jesus, ao se aproximar desta mulher, nos apresenta o caminho da fé, onde se encontra a verdadeira Água da Vida, aquela que sacia toda sede.

No relato de João, Jesus, no Poço de Jacó, na Samaria, ajuda a mulher Samaritana a descobrir a sua fé e vivê-la. Em primeiro lugar, Jesus se aproxima levando em consideração a pessoa humana, e não o seu pecado, o pecado de seu povo ou suas diferenças. Porém, mesmo no diálogo, não nega a Verdade. Aquela mulher pecadora tornara-se a pessoa mais importante para Jesus, muito mais que sua nacionalidade ou religião. Jesus rompe com qualquer acepção de pessoa, pois Ele quer libertar o ser humano.

Jesus se apresenta como a água que saciaria a sede daquela pobre mulher para sempre. Porém, a água que Jesus se apresenta, não reflete a água que passa e corre pelo rio ou agita-se no mar, poluída ou mau tratada, mas a Água da Vida, Vida Eterna. Jesus conduz a Samaritana a reconhecer seus pecados, suas infidelidades e, consequentemente, suas idolatrias, pois este é o caminho de reconhecer o Dom de Deus e desfrutar de sua misericórdia, dos Rios de Água Viva que Dele jorram.

No segundo passo, a mulher samaritana vai, mais profundamente, conhecendo Jesus. Percebe-se diante de uma Pessoa, e não de um ídolo. Em primeira instância, o reconhece como um profeta, depois, como o Cristo de Deus, o Messias, Salvador do mundo, a Água da Vida. Aquela aparente frágil mulher, ao fazer a experiência do encontro com Cristo, sente-se saciada pelo mesmo e sai a testemunhar o que o Senhor havia feito em sua vida. A missão, contudo, não é um objeto de ornamento que enfeita o cenário deste episódio, mas um elemento constitutivo e norteador que nos direciona para a experiência do encontro com Cristo e a consequência deste encontro.

A nossa educação na fé deve nos levar a encontrar-se com uma Pessoa. E, uma vez, encontrado, nossa vida não poderá mais ser a mesma. Saciar-se da Água da Vida é mergulhar no mais íntimo de nós mesmos, onde Deus nos encontra e nos fala. No fundo do poço de nossa história.

A Samaritana procurava saciar a sua sede naquele pobre poço, porém, sempre tinha sede. O mesmo acontece com aqueles e aquelas que buscam saciar-se nos poços sujos da vida: drogas, violência, sexo desenfreado, ciência sem critérios éticos, uso desordenado dos bens da natureza, consumismo e etc. Estes são, também, os maridos ou os ídolos do nosso tempo. Precisamos conhecer, assim como a Samaritana, o dom de Deus, o Espírito Santo derramado sobre nossos corações para que nossas atitudes correspondam à fé que professamos.

Por fim, busquemos reanimar o nosso Batismo, encontrar-se com Jesus, reconhecer as nossas faltas (não para sermos humilhados, mas para sermos libertos) e que possamos viver a missão que nos foi confiada, como o cuidado com o próximo e com a natureza: com o próximo, quando respeitamos o dom da vida e a liberdade humana; e, com a natureza, quando a temos como um bem. Como por exemplo, a água que representa purificação e transparência diante de Deus. A natureza que Deus criou pode nos ajudar a lê os mistérios de Deus e vivê-los. Portanto, temos mais um motivo para cuidarmos desta natureza que vive gemendo como em dores de parto. A água é um elemento, mais as plantas, as flores, pássaros, em fim, toda vegetação, animais e gente, fazem parte desta criação de Deus. Aproveitemos este Tempo Quaresmal, de Campanha da Fraternidade, de reflexão e de interiorização e busquemos saciar-nos em Deus, Perfeito e Insondável. Que a nossa sede seja da busca de Deus e que a nossa missão seja de cuidar do próximo e da criação.

Coloquemos nossos cântaros diante de Jesus para que Ele nos encha do Dom do Pai, o Espírito Santo, a Água Viva, a inundar a nossa caminhada.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!