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sábado, novembro 26, 2011

Álcool, Juventude e consequências...

O excesso de consumo de Bebidas alcoólicas na Adolescência e na Juventude: Normalidade ou Riscos?
* Pe. Paulo Nunes

  “O Grande problema de hoje é a carência de objetivos, a falta de sentido da vida. O ser humano sente a necessidade frenética, desesperada, de felicidade. Esta falta de sentido é substituída pela procura de “sensações” no álcool... drogas e na ansiedade sem descanso de quem não sabe o que procura”.
                         Miguel Lucas

Hoje, cada vez mais cedo, o álcool está fazendo parte da vida dos jovens e por muitas vezes ainda adolescentes. Os acontecimentos em certos lugares acabam em pizza e com a juventude do Brasil e do mundo termina, quase sempre, em álcool e muito barulho. Com o crescimento do número de adolescentes e jovens envolvidos com o excesso de bebidas alcoólicas, também cresce o número de envolvimento destes em acidentes de automóveis, em vandalismos e outros atos de irresponsabilidade que, por vezes, levam a experimentar outras drogas lícitas e ilícitas. O resultado que esta realidade atual produz é de uma nova sociedade, um novo mundo, onde os adultos ficam cada vez mais doentes, dependentes de drogas e irresponsáveis. O meio social oferece mais riscos que proteção aos adolescentes. Não apenas abotoado à questão das drogas e sim, em todos os problemas. Um mecanismo que possibilitará a mudança desta triste realidade é a vivência de uma cultura de responsabilidade e cultivo da vida.

Procuro, assim, trazer, por meio destas breves linhas alguns esclarecimentos sobre o risco provocado por alguns hábitos da juventude, dando uma ênfase maior ao consumo de bebidas alcoólicas nesta fase da vida. Este artigo traz, ainda, uma reflexão, sobre o problema do consumo do álcool na adolescência, apresentando os riscos à saúde física, mental e espiritual, apontando para a ineficácia das campanhas de combate ao alcoolismo que, infelizmente, não fazem mais efeito, oferecendo ao leitor subsídios para um despertar de consciência, mais crítica, em ralação ao atual comportamento destes adolescentes.

A juventude e seus hábitos nem sempre maravilhosos.
É verossímil que as energias de grande parte da juventude são depositadas nos bares, principalmente em meio a muito barulho e com um consumo exagerado de bebidas alcoólicas e outras drogas. É certo que nas sextas-feiras as escolas e cursinhos pré-vestibulares têm suas salas mais vazias, mas, em compensação, os bares, restaurantes, lanchonetes e “points” estão sempre cheios. Poderíamos até achar bom, afinal são jovens que passam a semana estudando e, às vezes, até trabalhando e tiram os finais de semana para liberar as energias e se divertir. Porém o exagero destes hábitos traz problemas mais graves, como o vício e a idade de atração pelo álcool, que é cada vez menor. Em sua maioria, estes jovens ainda são adolescentes, e como o próprio nome diz, a adolescência é um período de descobertas do corpo e da vida. E é durante estas descobertas que despertam para as emoções, paixões e mudanças físicas, morais, culturais e sociais.

A real situação, hoje, é que os pais, preocupados, não se sentem seguros quando seus filhos saem de casa, mesmo que essas saídas sejam para lugares considerados seguros, como a igreja, a escola e outros. Paira o temor das drogas e da violência, mas uma das maiores preocupações são as drogas de fácil acesso, como o álcool e o cigarro, por exemplo. Estas drogas estão próximas, o preço é acessível, e uma outra realidade deve ser considerada, ou seja, tudo é assimilado com muita normalidade e sem muita censura dos pais de família. Então, estes adolescentes bebem por curiosidade, pelo desejo de inserção social, para esquecerem problemas ou até mesmo para criar coragem para paquerar e enfrentar a própria dureza da vida. E, aos poucos, o que era apenas uma brincadeira ou uma diversão, torna-se num estado de vida, afogado nas lágrimas e no abandono de amigos, denominados de “amigos de copo”[1] e familiares também.

 A ineficácia das leis de proibição.

Em nosso país, existem leis e campanhas, ditas educativas, mas que não são mais cumpridas. Por exemplo: há uma lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina, mas a realidade nos mostra postos de gasolina com lojas de conveniência e bares instalados, tendo como principal produto de comercialização, bebidas alcoólicas. E isto incentiva o consumo do álcool aos motoristas que ali estacionam. Há, também, uma outra lei que proíbe a venda destas bebidas, em qualquer estabelecimento, a menores de dezoito anos, porém não havendo aplicação não há eficácia, pois a realidade é outra completamente diferente: não existe fiscalização. O que se vê são estabelecimentos cheio de jovens e até adolescentes consumindo bebidas com alta dosagem de álcool. As drogas lícitas, num consumo exagerado, tornam-se ilícitas, fabricando futuros adultos dependentes. Não basta criar leis, é preciso aplicá-las.
Alguns especialistas chegam a afirmar que a bebida não provoca danos, desde que seja consumida moderadamente, ou seja, socialmente. Infelizmente a nossa cultura atual promove um alto índice de pessoas dependentes de álcool. A cerveja, por exemplo, é considerada como uma bebida tradicional e que deve ser consumida deliberadamente, ou seja, bebe-se no frio para esquentar e bebe-se no calor para esfriar. Ela é a mais presente e nunca deixa sua clientela, seguida pelas bebidas “quentes” ou destiladas, costumeiramente, apelidadas de “birita”. A bebida alcoólica é de fácil acesso na maioria dos lugares, da fabrica ao bar mais próximo de qualquer residência, pode-se consumir. E o prejudicial nesta falta de controle é que o preço é baixo, não existe regulamentação tanto para quem vende, quanto para consumidor, que pode ser adolescente ou não, o pré-requisito neste caso é penas o dinheiro, gerando assim um sério problema ético. Informar e educar os jovens é o meio mais eficaz para evitar o consumo exagerado e precoce de álcool o que torna os pais  veículos importantes de comunicação e apoio, na assistência exemplar aos filhos e na impressão de valores morais. Embora a preocupação dos pais esteja mais voltada para o consumo de maconha e cocaína, o álcool é que vai fazendo suas vítimas muito discretamente.
O consumo do álcool e seus efeitos
O alcoolismo pode ser considerado uma doença quando sai do controle. É agradável o consumo de álcool de maneira social, sem dependência, apenas é arriscado quando o indivíduo sai desta fase social de beber e faz dela um hábito e vai acostumando o organismo a uma quantidade cada vez maior. Quando perde este controle, a dependência passa a ser física e psicológica. As ressacas e os problemas em decorrência da bebida: como problemas familiares, de relacionamento e de saúde, passam a ser constante; é geralmente nesse período que ocorrem as tentativas de fuga da dependência, o indivíduo busca meios estratégicos e disponíveis para se recuperar e sair do vício, porém o pior momento se dá é quando o indivíduo, já em decorrência da dependência tem um atrofiamento do cérebro: passa a delirar, perde a coordenação motora, o equilíbrio emocional, por vezes se torna esquizofrênico, sendo inclusive confundido com um Psico-Maníaco-Depressivo (PMD). Essa é a fase crítica e determinante no processo de dependência do álcool.
A medicina afirma que o alcoolismo produz sintomas neurológicos, afeta o cérebro, estômago e fígado. O cérebro se intoxica com substâncias produzidas pelo fígado em virtude de uma inflamação crônica chamada cirrose, comprometendo a mente e prejudicando a percepção de distância e velocidade, ocasionando assim, os acidentes. O estômago é comprometido pela gastrite (irritação ou ferida na parede interna do estomago) e é comum a indisposição e a falta de apetite, causando, assim, várias hemorragias, ocasionadas pelo inchaço na mucosa do estômago, dilatação das veias do estômago e do esôfago, causando no indivíduo  a cirrose, levando-o a morte, através do coma alcoólico. O fígado, órgão responsável pela coagulação sanguínea, devido à alta quantidade de álcool, produz uma gordura, chamada esteatose, adquirindo um pré-estágio da cirrose, e então esta gordura provoca no fígado um estado de petrificação.
Entenderemos com mais clareza o efeito do álcool no organismo, se analisarmos uma dose de bebida alcoólica: ela possui entre dez e doze gramas de etanol, que equivale a uma unidade de álcool puro, suficiente e sadio para um adulto. A quantidade de unidades de álcool é determinada pela concentração de álcool num volume de bebida, por exemplo. Com base nesses valores foram identificados padrões de quantas unidades de álcool um adulto sadio poderia consumir semanalmente: uma dose de aguardente – 50ml com concentração de álcool de 50% conteria 25gr. de álcool ou 2,5 unidades de álcool. Uma lata de cerveja 350ml com concentração de 5% de álcool teria o equivalente a 17gr. de álcool, aproximadamente 1,5 unidades de álcool. (LARANJEIRA & PINSKY, 1997). Assim, por esses padrões, que podemos denominar de critérios de consumo, é possível determinar as unidades de álcool que um indivíduo vem consumindo.
                  A Tabela abaixo apresenta as bebidas mais consumidas e as respectivas concentrações de álcool, gramas e unidades de álcool:

Bebidas
Concentração de Álcool/ gr.
Unidades de Álcool
1 Lata de Cerveja 350ml
5% = 17gr. de álcool
+- 1,5
1 dose de aguardente 50ml.
50% = 25gr. de álcool
2,5
1 copo de chopp 200ml
5% = 10gr. de álcool
2,5
1 copo de vinho 90ml
12% = 10gr. de álcool
1
1 garrafa de vinho 750ml
12% = 80gr. de álcool
8
1 dose de destilados (uísque, pinga, vodca, etc.) 50ml.
40%-50% = 20g-25gr de álcool
2 - 2,5

1 garrafa de destilados 750 ml
40%-50% = 300g-370gr. de álcool
30 – 37
(LARANJEIRA & PINSKY, 1997). 

Vale ressaltar que esses padrões de consumo estão relacionados ao consumo durante uma semana, portanto, este consumo de álcool em apenas um dia implicaria danos mais agravantes à saúde. Neste caso, o álcool torna o sujeito mais vulnerável a problemas de saúde, como intoxicação alcoólica, probabilidade de acidentes, sendo que o limite permitido por lei é de 0,57gr. de álcool por litro de sangue.


“Nas mulheres, em comparação com os homens, o álcool atinge maiores concentrações no sangue e é absolvido em maiores quantidades devido à proporção de gordura corpórea maior e de menor quantidade de líquido corporal nas mulheres que nos homens. Desse modo, o álcool causa mais problemas físicos nas mulheres, comparados com os homens com o mesmo peso corporal. Tal padrão de consumo refere-se a mulheres não-grávidas, pois na gravidez é recomendável a abstinência total de álcool” (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).


A Tabela II abaixo representa os riscos do álcool à Saúde X Consumo de Álcool.

RISCOS
MULHERES
HOMENS

Baixo

Menores de 14
Unidades
Por semana
Menores de 21
Unidades
Por semana

Moderado
Por semana
15 a 35
unidades por semana
Por semana
22-50
unidades por semana

Alto
Mais de 36
Unidades
Por semana
Mais de 51
Unidades
Por semana
Fonte: LARANJEIRA & PINSKY, 1997.
                  Ainda não existe uma certeza científica sobre o que determina a etiologia do alcoolismo. Estudos detectam evidências para as condições, mas não existe definição exata.


 “Há muito mais indivíduos não diagnosticados medicamente como alcoólatras, mas que consomem álcool de forma prejudicial à saúde. Há fatores sociais com tanto poder de persuasão para a prevenção quanto para estimular padrões inadequados para o beber, por exemplo, demanda e oferta de bebida, informação e propaganda” (LARANJEIRA & PINSKY, 1997).


As campanhas publicitárias trazem rendimentos milionários à mídia, e o governo tem um lucro muito alto com os impostos destes produtos. As campanhas incentivam o consumo de cigarros e bebidas. As propagandas e os comerciais destinados, principalmente aos jovens, incentivando o consumo de bebidas alcoólicas, trazem sempre a imagem de lindas mulheres seminuas ou rapazes mostrando seus corpos esculpidos e seminus. As cervejas são campeãs nestas estratégicas maneiras de persuadir com o marketing. Os comerciais são sempre bem elaborados e com uma linguagem própria de uma classe social baixa e de pouca instrução; a linguagem é de fácil entendimento enquanto que o alerta para o consumo exagerado é de uma linguagem culta e de difícil entendimento, a exemplo de “Beba com moderação”. O que é preocupante não é somente o consumo de bebidas alcoólicas, pois estas só são prejudiciais quando consumidas em excesso, mas a preocupação maior deve ser com o consumo de cigarros e outras drogas que, aparentemente, são proibidas, pois estas são prejudiciais em qualquer quantidade, tanto em pouca, como em muita quantidade, pois o prejuízo é total na vida, até levar à morte.

Conclusão

Cabe, portanto, salientar que as drogas provocam um aparente “bem estar”, uma adrenalina, um êxtase e uma sensação de liberdade, e, por conta destas sensações, muitos jovens se entregam a uma liberalidade, sem nenhum pudor ou respeito pelo outro, e até mesmo vivem experiências desafiantes e arriscadas, como dirigir automóveis em alta velocidade, dirigir alcoolizado e, por vezes, promover os chamados “pegas”, provocando acidentes e ferindo pessoas inocentes e até cometendo assassinatos. Fica nítido nestas ocasiões, o descompromisso social e a falta de respeito às leis de trânsito, mesmo existindo as blitz, promovidas pelos órgãos competentes usando mecanismos como o bafômetro, mas que ainda não conseguiram eliminar estas práticas que ainda fazem vítimas. Esses jovens movidos pelo excesso de álcool são capazes de atos de vandalismo, promovendo desordens e muitas outras desgraças.

Portanto, o que não pode ser desconsiderado é o papel educativo dos pais e o compromisso social que cada cidadão tem em denunciar os estabelecimentos que incentivam e promovem o consumo destas bebidas, aparentemente benéficas. As leis devem ser cumpridas e levadas a sério por todos e o governo tem o papel de exigir e criar em seus órgãos e ministérios, políticas públicas para a juventude. Investir mais em propagandas, programas de apoio físico e psicológico, como os centros de recuperação dos Alcoólicos Anônimos (AA) e dos Narcóticos Anônimos (NA) que já vêm realizando um bom trabalho e, já a partir do colégio, dar ao adolescente uma vasta visão do que acontece com a vida de dependentes em álcool, sem se fechar somente às drogas ilícitas, como já acontece.

Referências:
BRASIL – GOVERNO FEDERAL. Estatuto da Criança e do Adolescente. (ECA) São Paulo: MESP, 1990.
CURY, Augusto. O Mestre do Amor. Análise da Inteligência de Cristo. Academia de Inteligência. 4ª. Edição. São Paulo, 2002. Pgs. 43-46.
Fonte de pesquisa médica: www.alcoolismo.com.br – 12.08.2005 às 13:12h.                  LARANJEIRA, R. & Pinsky, I. Alcoolismo. São Paulo: Contexto, 1997.

* Pe. Paulo Nunes
Bacharel em Teologia pelo Instituto de Teologia da Universidade Católica de Salvador – Padre Diocesano, Professor do Curso de Extensão em Teologia da UCSal 


[1]O termo “Amigos de copo” refere-se às pessoas que são companheiras somente nas ocasiões de festas, ou melhor, nos momentos de consumo de bebidas.

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