SEJAM BEM VINDOS!

Sejam bem vindos (as)! "Que esta página virtual seja para você um espaço Teológico, Filosófico, Espiritual e Artístico-Cultural, capaz de proporcionar um diálogo com o mundo em suas mais complexas dimensões". Alegria, Paz e Bem!

segunda-feira, agosto 31, 2009

Café Filosófico


A dialética existencial do indivíduo, em Sören Aabye Kierkegaard
“O homem é uma síntese de finito e infinito,
de temporal e de eterno, de liberdade e de necessidade, é, em suma, uma síntese”
(KIERKEGAARD, 1988, p.195).

Por Paulo Nunes
Sören Aabye Kierkegaard (1813-1855), filósofo dinamarquês de Copenhague, embora suas idéias filosóficas só tenham sido traduzidas muito tempo depois, ele acabou sendo referência para muitos autores no período da história da filosofia contemporânea. Kierkegaard era considerado apenas um pensador cristão, pois não tinha alcançado no campo da filosofia um respaldo filosófico em seu pensamento, contudo, foi em suas obras que muitos estudiosos encontraram um caminho para as respostas sobre a existência do homem, principalmente na situação do homem no século XIX que compreendia a ciência como a solução da vida.

O pensamento kierkegaardiano se ocupou em questões, tais como: O que significa existir? Qual o sentido real da existência do homem? Qual o sentido da morte, da angústia, do desespero, da liberdade e da fé? Em que difere a existência do homem dos seres inanimados? Na sua filosofia o ponto central é a existência, embora o seu fator principal não seja a dúvida, mas, contudo, o sentido e a vivência das tensões na existência. Kierkegaard entra na história da filosofia para defender o Indivíduo como ser Único e Existente, contrariando toda e qualquer idéia de sistema que venha engolir a existência do homem em sua subjetividade. Sören Kierkegaard, portanto, nos apresenta um pensamento voltado para uma razão existencial que busca compreender o sentido da existência do homem, marcado pelo desejo, angustia e desespero, mas que, porém, se encontra na experiência religiosa, através da dialética da fé. O existencialismo kierkegaardiano é acima de tudo, um existencialismo humanista, que, no entanto, compreende o homem como, um indivíduo em estádios existenciais: a saber, os estádios estético, ético e religioso.

No entanto, a ética religiosa, para o autor, é um dos pontos mais polêmicos de sua filosofia, que traz como exemplo, o ‘Pai da fé’, Abraão, que é chamado por Deus a sacrificar o seu filho, Isaac. A fé, para o dinamarquês, é a mais alta paixão do homem e a obediência se constitui no Absoluto, lugar de silêncio, lugar de Deus, bem como a distância que há entre a subjetividade finita do homem e a pessoa infinita de Deus.A busca da verdade existencial, em Kierkegaard, não é abstrata, mas parte de uma realidade concreta da vida humana, embora a existência não possa ser compreendida tão somente pela racionalidade, como um dado objetivo, mas como caráter essencial da subjetividade.

O cristianismo é, para Kierkegaard, o melhor meio de compreender o paradoxo da existência do homem, pois ele traz a grande novidade do Deus que se faz homem e se encarna na humanidade, sentindo angústia, desespero e sofrimento. Como compreender um Deus que se faz homem e que assumindo a humanidade salva a todos? Neste sentido, o homem é paradoxo e sua dialética não se define pela síntese de Hegel que perde a subjetividade na totalidade, mas pela síntese que conjuga os contrários. Não por uma semelhança, mas pela contrariedade, decorrente de uma interiorização da própria existência.

Kierkegaard faz um caminho filosófico sobre a existência do homem, que não está somente determinado pela capacidade de pensar, que por hora destacou Descartes em sua máxima “Penso, logo existo’. Mas pelo próprio paradoxo que se instaura na vida e na história do homem, o homem não é, tão somente, um ser pensante, mas também, um ser paradoxal. Mas é uma junção entre existência e pensamento, com uma finalidade transcendental, portanto, o homem existe num conflito, num movimento de ser e não-ser, por isso, o homem se encontra num constituinte eterno.

Pensar que o homem seja determinado apenas, em sua existência, como um ser pensante é descaracterizar a sua própria existência, pois o homem é, também, um ser por instinto, que existe como um idealizador do desejo, do prazer e da satisfação, da vontade, mas, ele também, se apresenta como um ser ético, abraçando uma existência onde ele sabe educar seu desejo, sua vontade e ser coerente em seus atos, mais ainda, ele é um ser de fé, pois busca na sua relação finita, o Infinito, e crê num ser Absoluto. Assumir a existência pela sua razão é limitar o homem a uma irrealidade, que por vezes é abstrata. Pois ele não se define apenas pela racionalidade, mas numa busca infinita de preenchimento, não somente pela razão, mas pelo transcendente, neste sentido, ele se depara com algumas marcas existenciais, como: a liberdade, sem escapar da necessidade; a angustia, sem escapar da possibilidade de ser livre; do desespero como condição de fazer o homem mergulhar em si mesmo e buscar a sua finalidade transcendental, sem se esquivar da paixão; e ainda, é claro, da racionalidade, sem escapar da fé, como o salto maior de sua existência. Portanto, o homem é paradoxal, como o próprio Kierkegaard diz: “uma síntese de infinito e finito, de temporal e de eterno, de liberdade e necessidade, é em suma, uma síntese” (Kierkegaard, Desespero – Doença mortal, pp.12).

Kierkegaard fala da existência do homem, analisando-a enquanto movimento dialético que se efetiva a partir dos estádios existenciais. Estes estádios não têm a finalidade de separar ou fragmentar o homem, mas de entendê-lo como um ser que se realiza atravez das etapas da existência, a fim de se firmar como um ser existente, perpassando a racionalidade cartesiana, o determinismo hegeliano e adentrar em si próprio, descobrindo a verdade dentro da sua subjetividade. Como o autor bebeu das fontes de Santo Agostinho, ele comungava da idéia da verdade ser encontrada dentro do próprio homem, basta que ele a descubra.

Falar da existência do homem é pensar no indivíduo, enquanto possibilidade, mudança, que não obedece ao racionalismo sistemático, mas pensar num ser que se interioriza e busca a sua existência. Em breve palavras, podemos afirmar que o homem no estádio estético está voltado para ações relacionadas com o prazer imediato. Ele não adere a uma consciência de ideal e, por isso, perde-se na falta de compromisso e responsabilidade. Suas ações são sempre de busca de satisfação do prazer e da vontade, sem, no entanto, não conseguir alcançar a sua realização. Assim sendo, o que importa neste estádio é a variedade de buscas e não uma paixão única.

Para Kierkegaard, no estádio ético da existência, o homem mergulha no próprio Eu, subjetivando-se, pois o homem encontra-se consigo mesmo, dar-se conta de sua existência e percebe-se como um ser livre que pode aceitar-se ou negar-se frente à realidade de sua existência. O estádio estético não é ignorado no ético, mas a passagem no estético é condição para viver o ético com seriedade. O homem ético escolhe a si mesmo, enquanto que o estético se perde no externo. O indivíduo estético visa a sua realização no prazer que nunca o satisfaz, enquanto que o ético se realiza na sua obrigação de tal forma que incorpora a lei universal, realizando-se em sua existência, puramente introspectiva.

Conforme o pensamento Kierkegaardiano, o homem no estádio religioso, apresenta-se no mais alto grau de sua existência, pois ele já realizou o primeiro salto, aderindo à sua existência um estádio estético, em seguida, assumindo uma postura de homem ético, que age na moral, mas que se confronta com o sofrimento, a angustia e o desespero, necessitando do ser Infinito para abarcar a sua existência, portanto, é na dialética da fé que o indivíduo alcança este estádio. O maior exemplo deste homem religioso é o próprio Cristo, que se fez homem, portanto, finito, sendo Deus, logo, Infinito, duas realidades, que apresenta o homem como paradoxo. O homem compreende, de maneira mais pessoal, individual, a fé, como uma paixão da existência. O homem acredita em Deus, ser infinito, e se lança em uma entrega total, que a razão nunca entenderia, mas que só a fé daria a possibilidade da grandeza do mistério. Contudo, a fé passa a ter uma categoria existencial, pois unicamente o indivíduo poderá tê-la e fazer a experiência, por mais que se ensine sobre a fé, tê-la será sempre obra do indivíduo.

Referências:GOUVÊA, Ricardo Quadros. São Paulo, Editora: Novo Século Ltda, 2000.
KIERKEGAARD, Sören. Temor e Tremor. In coleção “Os Pensadores”. São Paulo, Editora Abril Cultura. 1979.
KIERKEGAARD, Sören. Desespero –Doença mortal. Porto Portugal, Editora Rés.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário