SEJAM BEM VINDOS!

Sejam bem vindos (as)! "Que esta página virtual seja para você um espaço Teológico, Filosófico, Espiritual e Artístico-Cultural, capaz de proporcionar um diálogo com o mundo em suas mais complexas dimensões". Alegria, Paz e Bem!

terça-feira, março 02, 2010

Carta aberta, de um jovem seminarista, sobre Pe. Pedro Mathon

Peço licença aos visitantes de outros lugares para, neste blog, homenagear escrevendo com a caneta da gratidão, algumas palavras de considerações sobre o sempre jovem sacerdote, Pedro Mathon.

Na década de 60, a Igreja Católica no mundo todo vivia as angústias de um tempo de mudança: mudança de pensamento, de clero e de povo - Povo de Deus, e toda a sua estrutura cultual e cultural. Saímos da Igreja Tridentina e passamos para uma Igreja Vaticana. Foi neste contexto que a Igreja particular de Salvador recebeu o jovem francês, Padre Pedro Mathon. Pe. Mathon, como assim passa a ser chamado pela juventude, tinha deu um enfoque maior à pastoral. Com a juventude ele construiu caminhos de paz e justiça, saciou a fome de Deus e material de muitos, apressou os seus passos para salvar almas para Deus, fez do seu grito desconcertado e às vezes mau entendido, o clamor para que o Reino de Deus pudesse acontecer no meio de nós, como ensinara o Evangelho (cf. Lc 17,20-21).

Este jovem sacerdote, nascido em 1928, em Condecourt - França, e ordenado aos 28 anos, assumiu a Paróquia Nossa Senhora das Dores em 1975, onde permaneceu até o início de 2009, já Cônego. Portanto, esta terra foi presenteada por Deus, em seus 50 anos de ministério sacerdotal, onde, destes 50 anos, a maioria se deu aqui, em terras brasileiras e baianas. Por este tempo, nossa juventude ganhou força. Não estávamos apenas nas igrejas, mas a juventude católica já havia chegado às universidades: éramos Pastoral da Juventude e Pastoral Universitária. Uma luta por uma juventude santa, católica e missionária, agente de paz num mundo cercado de armas, sofrida pelas conseqüências da ditadura militar, esquecida pelo sistema e calada à força pelos poderosos.

Mas essa juventude orava, promovia semanas catequéticas, encontros de interação entre os jovens (como o Crisjovem), formação de lideranças e coordenações para auxiliar e acompanhar os jovens nas mais de 120 paróquias de nossa arquidiocese. Este foi o nosso fôlego juvenil, nossa garra e luta pela justiça e pela solidariedade. Pe. Mathon fez discípulos para Jesus e como dizia Mons. Gaspar Sadoc, na missa de corpo presente, na Catedral Basílica do Salvador: “Ele sempre andou apressado, mas nunca atropelou ninguém”. Assim regia a honestidade deste santo homem que, na sua obediência e dedicação, servia a Deus e a Igreja. Caminhou com o povo até seus últimos dias. Tudo que não desejara era deixar a sua paróquia de coração, Paróquia Nossa Senhora das Dores no Lobato, periferia de Salvador, mas a sua natureza física não permitiu mais. Doou-se até os últimos instantes, preocupou-se até às vésperas da morte, quando suplicava a um sacerdote que não permitisse morrer a semana bíblico-catequética da Arquidiocese. Só um coração de pai sabe preocupar-se com os filhos.

Esta carta aberta, embora seja póstuma, não quer simplesmente valorizar a vida deste nobre sacerdote porque ele já partiu, mas quer explicitar ao público juvenil e aos demais que os ideais de Pe. Mathon devem estar vivos em nossa pujança de jovem católico. Que a passagem de Pe. Mathon para a outra vida seja para nós uma oportunidade de pararmos e refletirmos sobre a nossa caminhada de fé, nossos ideais e voltarmos a nos perguntar: qual o Deus em que colocamos a nossa fé? E, onde está a juventude que criamos ao longo destes anos?”. Estas perguntas devem ser flechas a atingir o nosso coração e nos levantar, a fim de erguermos as nossas cabeças e caminharmos. Perceber os novos tempos, mudar o que deve ser mudado, conservar o que deve ser conservado, viver o que deve ser vivido. Precisamos sair das catacumbas, mostrar a nossa cara, fazer ouvir a nossa voz, anunciar o Reino sem medo e com fé, porque como dizia Gilberto Gil, “com fé não costuma falhar!”.

Parodiando Santo Agostinho, que dizia: “... ame e faça o que queres, porque quem ama não quer qualquer coisa, mas o bem da pessoa amada”, Pe. Mathon encontrou na canção de Pe. Zezinho, a resposta para a felicidade: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria...”. A felicidade é imitar a Cristo e identificar-se com Ele e com sua missão, esta é a grande lição deste homem de cabelo branco, voz rouca e cansada, mas firme e fervorosa, capaz de converter corações endurecidos: a muitos deu o pão, a todos se fez pão (deixou-se consumir até o último instante). Pois bem, jovens, é hora de, com fé, andar; trocar, na cidade, as pás e enxadas pelo mundo da tecnologia – evangelizar pelos mais variados meios de comunicação; trocar a nossa linguagem militante ultrapassada pelo tempo e pela realidade para a linguagem da arte, com sensibilidade e talento, retratando a realidade dos jovens, hoje muito mais marcados pelas drogas, depressão, falta de sentido e a desestruturação familiar; trocar os meios, não os fins, pois o conteúdo e a finalidade devem ser o mesmo: Jesus, único e verdadeiro Senhor.

Nossa geração vocacionada, com certeza, foi selada pela presença de Pe. Mathon, homem zeloso e que a exemplo do Santo Cura D’Ars, nunca abandonou sua grande paixão: a Eucaristia e Nossa Senhora. Este homem de fé, deu tudo de si, com radicalidade, seguiu a Cristo à exemplo de Maria Santíssima e foi viril, ousado e temente a Deus como o Apóstolo Pedro, fazendo jus seu nome, Pedro Mathon. Quando errou na sua forma de administrar, não no conteúdo de sua fé, errou porque queria acertar e acertou quando julgaram ter errado. Seu ministério nos ensinou a sermos santos e que uma vida para Deus é possível.

Resta-nos como uma forma eterna de estar presente, a saudade. Saudade de seus passos apressados e de seu olhar de águia. Saudades de sua fé inspiradora e de seu cuidado de pai, mesmo em meio as suas fragilidades culturais e físicas. Resta-nos ainda agradecê-lo pela graça de ter-se feito baiano por amor ao Evangelho de Jesus. Resta-nos também, agradecer aos seus fiéis discípulos, Pe. Anastácio Gilberto e Zoraíde: ao Pe. Gilberto pelo cuidado de filho e pela companhia sacerdotal ao longo destes intensos anos, também pela sua gratuidade e dedicação, onde, viveu grande parte de seu ministério ao lado de Pe. Mathon. Não podemos nos esquecer de Zoraíde, mulher simples que passou sua vida ao lado deste homem, acompanhando-o na missão que Deus lhe confiara. Foi apoio e anjo, foi as pernas, os braços e o coração daquele grande homem que aos poucos se viu desgastado e fragilizado pela doença.

Olhemos para frente, neste Ano Sacerdotal, e percebamos como existem muitos homens e mulheres de Deus que dão a vida pelo Evangelho, basta lembrarmos de Mons. Gaspar Sadoc, que aos seus mais de noventa anos é uma voz profética e que ainda é capaz de acender a fé em muitos corações duros; Dom Josafá Menezes que assume seu pastoreio com tanta proximidade com o povo simples e de fé, conhece o clero da arquidiocese e não mede esforços para ir ao encontro dos sacerdotes a ele confiados; Dona Iolanda, leiga e consagrada ao Senhor, que ao deixar a sua terra, chega ao Brasil e não mede esforços para ajudar as crianças que sofrem a pobreza e a violência no bairro da Chapada do Rio Vermelho e a tantos outros e outras que inspiram a nossa fé e levam com autoridade a Palavra de Deus.

Não diria ao Pe. Mathon, adeus! Mas, obrigado, pois sua memória ainda é viva em nossos corações! Deus seja louvado!
Salvador, 25 de fevereiro de 2010
Do coração grato de um jovem seminarista, Paulo Nunes.

3 comentários:

  1. Parabens Paulinho! Gostei da sua carta aberta sobre Pe. Mathon. Bonita homenagem. Ao falar de Pe. Mathon, lembro-me da frase de Dom Temoteo, que diz: "O homem nao morre de tudo que amou e viver..." E isso nós sabemos do que o Pe. Mathon mais amou e viveu... Exatamente o que faz viver para sempre em nossos coraçoes e em nossas memórias.
    Pe. José Carlos (Pe. Zeca)

    ResponderExcluir
  2. Caro Paulo Nunes,

    Muito obrigada por visitar o nosso blog da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no Lobato.

    Quem vos escreve é a responsável pelos blogs da Paróquia e o da Capela São João Maria Vianney.

    Gostei do seu comentário e concordo quando vc escreve que Pe.Mathon descansou. Ele, homem forte e de muita fé, lutou e trabalhou muito pela nossa Igreja, pelos jovens, necessitados, humildes etc. Visitei-o na quinta-feira, um dia antes do seu falecimento e pude ver que ele estava numa situação muito delicada. Chegou a hora dele e agora sentimos muitas saudades. Ouvi, certa vez, que devemos ter saudades e não tristeza.

    Aproveito para parabenizá-lo pelo seu blog. Li a carta, gostei das suas palavras e da sua emoção expressada na mesma. Continue firme nas atualizações e em tudo o que fores postar, pois um blog também é uma forma de evangelizarmos e levarmos informações a milhares de pessoas que utilizam bastante a internet.

    Digo-lhe que, ao ler que vc é natural de Euclides da Cunha, os meus pais nasceram na região de Algodões. Nasci e moro com eles aqui na capital e todos os anos viajo para lá, em janeiro, na festa do padroeiro São Sebastião. Participo das novenas e da linda procissão seguida da missa solene.

    Agradeço-lhe mais uma vez e espero que continue acessando os blogs: http://capela-sjmvianney.blogspot.com/ e http://nossasenhoradasdoreslobato.blogspot.com/.

    Que Deus te abençoe.

    Abraços,

    Gilneide Costa.

    ResponderExcluir
  3. linda mensagem Paulo,me emocionei com ela,o padre Mathon é um santo,sua vida reluzia essa verdade,e como disse o monsenhor sadoc,não temos o direito de ficar triste,ele tá com Deus,intercdendo por nós.
    bjão!Rose

    ResponderExcluir

Deixe aqui seu comentário