Peço licença aos visitantes de outros lugares para, neste blog, homenagear escrevendo com a caneta da gratidão, algumas palavras de considerações sobre o sempre jovem sacerdote, Pedro Mathon.
Na década de 60, a Igreja Católica no mundo todo vivia as angústias de um tempo de mudança: mudança de pensamento, de clero e de povo - Povo de Deus, e toda a sua estrutura cultual e cultural. Saímos da Igreja Tridentina e passamos para uma Igreja Vaticana. Foi neste contexto que a Igreja particular de Salvador recebeu o jovem francês, Padre Pedro Mathon. Pe. Mathon, como assim passa a ser chamado pela juventude, tinha deu um enfoque maior à pastoral. Com a juventude ele construiu caminhos de paz e justiça, saciou a fome de Deus e material de muitos, apressou os seus passos para salvar almas para Deus, fez do seu grito desconcertado e às vezes mau entendido, o clamor para que o Reino de Deus pudesse acontecer no meio de nós, como ensinara o Evangelho (cf. Lc 17,20-21).
Este jovem sacerdote, nascido em 1928, em Condecourt - França, e ordenado aos 28 anos, assumiu a Paróquia Nossa Senhora das Dores em 1975, onde permaneceu até o início de 2009, já Cônego. Portanto, esta terra foi presenteada por Deus, em seus 50 anos de ministério sacerdotal, onde, destes 50 anos, a maioria se deu aqui, em terras brasileiras e baianas. Por este tempo, nossa juventude ganhou força. Não estávamos apenas nas igrejas, mas a juventude católica já havia chegado às universidades: éramos Pastoral da Juventude e Pastoral Universitária. Uma luta por uma juventude santa, católica e missionária, agente de paz num mundo cercado de armas, sofrida pelas conseqüências da ditadura militar, esquecida pelo sistema e calada à força pelos poderosos.
Mas essa juventude orava, promovia semanas catequéticas, encontros de interação entre os jovens (como o Crisjovem), formação de lideranças e coordenações para auxiliar e acompanhar os jovens nas mais de 120 paróquias de nossa arquidiocese. Este foi o nosso fôlego juvenil, nossa garra e luta pela justiça e pela solidariedade. Pe. Mathon fez discípulos para Jesus e como dizia Mons. Gaspar Sadoc, na missa de corpo presente, na Catedral Basílica do Salvador: “Ele sempre andou apressado, mas nunca atropelou ninguém”. Assim regia a honestidade deste santo homem que, na sua obediência e dedicação, servia a Deus e a Igreja. Caminhou com o povo até seus últimos dias. Tudo que não desejara era deixar a sua paróquia de coração, Paróquia Nossa Senhora das Dores no Lobato, periferia de Salvador, mas a sua natureza física não permitiu mais. Doou-se até os últimos instantes, preocupou-se até às vésperas da morte, quando suplicava a um sacerdote que não permitisse morrer a semana bíblico-catequética da Arquidiocese. Só um coração de pai sabe preocupar-se com os filhos.
Esta carta aberta, embora seja póstuma, não quer simplesmente valorizar a vida deste nobre sacerdote porque ele já partiu, mas quer explicitar ao público juvenil e aos demais que os ideais de Pe. Mathon devem estar vivos em nossa pujança de jovem católico. Que a passagem de Pe. Mathon para a outra vida seja para nós uma oportunidade de pararmos e refletirmos sobre a nossa caminhada de fé, nossos ideais e voltarmos a nos perguntar: qual o Deus em que colocamos a nossa fé? E, onde está a juventude que criamos ao longo destes anos?”. Estas perguntas devem ser flechas a atingir o nosso coração e nos levantar, a fim de erguermos as nossas cabeças e caminharmos. Perceber os novos tempos, mudar o que deve ser mudado, conservar o que deve ser conservado, viver o que deve ser vivido. Precisamos sair das catacumbas, mostrar a nossa cara, fazer ouvir a nossa voz, anunciar o Reino sem medo e com fé, porque como dizia Gilberto Gil, “com fé não costuma falhar!”.
Parodiando Santo Agostinho, que dizia: “... ame e faça o que queres, porque quem ama não quer qualquer coisa, mas o bem da pessoa amada”, Pe. Mathon encontrou na canção de Pe. Zezinho, a resposta para a felicidade: “Amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu, sentir o que Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria...”. A felicidade é imitar a Cristo e identificar-se com Ele e com sua missão, esta é a grande lição deste homem de cabelo branco, voz rouca e cansada, mas firme e fervorosa, capaz de converter corações endurecidos: a muitos deu o pão, a todos se fez pão (deixou-se consumir até o último instante). Pois bem, jovens, é hora de, com fé, andar; trocar, na cidade, as pás e enxadas pelo mundo da tecnologia – evangelizar pelos mais variados meios de comunicação; trocar a nossa linguagem militante ultrapassada pelo tempo e pela realidade para a linguagem da arte, com sensibilidade e talento, retratando a realidade dos jovens, hoje muito mais marcados pelas drogas, depressão, falta de sentido e a desestruturação familiar; trocar os meios, não os fins, pois o conteúdo e a finalidade devem ser o mesmo: Jesus, único e verdadeiro Senhor.
Nossa geração vocacionada, com certeza, foi selada pela presença de Pe. Mathon, homem zeloso e que a exemplo do Santo Cura D’Ars, nunca abandonou sua grande paixão: a Eucaristia e Nossa Senhora. Este homem de fé, deu tudo de si, com radicalidade, seguiu a Cristo à exemplo de Maria Santíssima e foi viril, ousado e temente a Deus como o Apóstolo Pedro, fazendo jus seu nome, Pedro Mathon. Quando errou na sua forma de administrar, não no conteúdo de sua fé, errou porque queria acertar e acertou quando julgaram ter errado. Seu ministério nos ensinou a sermos santos e que uma vida para Deus é possível.
Resta-nos como uma forma eterna de estar presente, a saudade. Saudade de seus passos apressados e de seu olhar de águia. Saudades de sua fé inspiradora e de seu cuidado de pai, mesmo em meio as suas fragilidades culturais e físicas. Resta-nos ainda agradecê-lo pela graça de ter-se feito baiano por amor ao Evangelho de Jesus. Resta-nos também, agradecer aos seus fiéis discípulos, Pe. Anastácio Gilberto e Zoraíde: ao Pe. Gilberto pelo cuidado de filho e pela companhia sacerdotal ao longo destes intensos anos, também pela sua gratuidade e dedicação, onde, viveu grande parte de seu ministério ao lado de Pe. Mathon. Não podemos nos esquecer de Zoraíde, mulher simples que passou sua vida ao lado deste homem, acompanhando-o na missão que Deus lhe confiara. Foi apoio e anjo, foi as pernas, os braços e o coração daquele grande homem que aos poucos se viu desgastado e fragilizado pela doença.
Olhemos para frente, neste Ano Sacerdotal, e percebamos como existem muitos homens e mulheres de Deus que dão a vida pelo Evangelho, basta lembrarmos de Mons. Gaspar Sadoc, que aos seus mais de noventa anos é uma voz profética e que ainda é capaz de acender a fé em muitos corações duros; Dom Josafá Menezes que assume seu pastoreio com tanta proximidade com o povo simples e de fé, conhece o clero da arquidiocese e não mede esforços para ir ao encontro dos sacerdotes a ele confiados; Dona Iolanda, leiga e consagrada ao Senhor, que ao deixar a sua terra, chega ao Brasil e não mede esforços para ajudar as crianças que sofrem a pobreza e a violência no bairro da Chapada do Rio Vermelho e a tantos outros e outras que inspiram a nossa fé e levam com autoridade a Palavra de Deus.
Não diria ao Pe. Mathon, adeus! Mas, obrigado, pois sua memória ainda é viva em nossos corações! Deus seja louvado!
Salvador, 25 de fevereiro de 2010
Do coração grato de um jovem seminarista, Paulo Nunes.
Parabens Paulinho! Gostei da sua carta aberta sobre Pe. Mathon. Bonita homenagem. Ao falar de Pe. Mathon, lembro-me da frase de Dom Temoteo, que diz: "O homem nao morre de tudo que amou e viver..." E isso nós sabemos do que o Pe. Mathon mais amou e viveu... Exatamente o que faz viver para sempre em nossos coraçoes e em nossas memórias.
ResponderExcluirPe. José Carlos (Pe. Zeca)
Caro Paulo Nunes,
ResponderExcluirMuito obrigada por visitar o nosso blog da Paróquia Nossa Senhora das Dores, no Lobato.
Quem vos escreve é a responsável pelos blogs da Paróquia e o da Capela São João Maria Vianney.
Gostei do seu comentário e concordo quando vc escreve que Pe.Mathon descansou. Ele, homem forte e de muita fé, lutou e trabalhou muito pela nossa Igreja, pelos jovens, necessitados, humildes etc. Visitei-o na quinta-feira, um dia antes do seu falecimento e pude ver que ele estava numa situação muito delicada. Chegou a hora dele e agora sentimos muitas saudades. Ouvi, certa vez, que devemos ter saudades e não tristeza.
Aproveito para parabenizá-lo pelo seu blog. Li a carta, gostei das suas palavras e da sua emoção expressada na mesma. Continue firme nas atualizações e em tudo o que fores postar, pois um blog também é uma forma de evangelizarmos e levarmos informações a milhares de pessoas que utilizam bastante a internet.
Digo-lhe que, ao ler que vc é natural de Euclides da Cunha, os meus pais nasceram na região de Algodões. Nasci e moro com eles aqui na capital e todos os anos viajo para lá, em janeiro, na festa do padroeiro São Sebastião. Participo das novenas e da linda procissão seguida da missa solene.
Agradeço-lhe mais uma vez e espero que continue acessando os blogs: http://capela-sjmvianney.blogspot.com/ e http://nossasenhoradasdoreslobato.blogspot.com/.
Que Deus te abençoe.
Abraços,
Gilneide Costa.
linda mensagem Paulo,me emocionei com ela,o padre Mathon é um santo,sua vida reluzia essa verdade,e como disse o monsenhor sadoc,não temos o direito de ficar triste,ele tá com Deus,intercdendo por nós.
ResponderExcluirbjão!Rose